A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A EXPRESSÃO DAS RUAS

 

ZERO HORA 17 de agosto de 2015 | N° 18264


EDITORIAL



As autoridades de todos os poderes devem oferecer respostas efetivas à terceira grande manifestação do ano contra os danos da corrupção.O Brasil teve ontem, nas ruas das capitais e de muitas cidades médias, a demonstração de uma das mais consagradas expressões da cidadania. Mesmo sem o vigor de ocasiões anteriores, pela terceira vez neste ano a população, contrariada com a situação da política e da economia, verbalizou a condenação dos corruptos, com críticas diretas aos desmandos do governo e em especial à figura da presidente Dilma Rousseff. O Brasil indignado reforçou um recado que se estende a outros setores da vida pública e deve ser compartilhado principalmente com o Congresso. A combinação dos ambientes de estagnação econômica e de corrupção levou multidões a passeatas que, desta vez, tiveram peculiaridades a serem destacadas.

Ficou evidente, como marca da maioria dos protestos, a exaltação da figura do juiz Sergio Moro, que coordena os processos da Operação Lava-Jato e cuja performance vem sendo reconhecida inclusive no Exterior. As faixas e os cartazes com referências ao magistrado devem ser vistos como manifestação de confiança em uma autoridade que passa a personificar a autonomia e a independência da Justiça, um dos pilares da democracia. Também merece registro o fato de que, mais desta vez do que nos protestos de março e abril, os manifestantes acolheram a participação de políticos.

Mas a grande característica em comum, desta e das outras marchas, foi o fato de que a população desfrutou o direito de se manifestar de forma pacífica, sem que incidentes graves de violência ou intolerância tenham sido registrados. Com algumas manifestações localizadas pró-governo, foi ratificada também a possibilidade da diversidade de pontos de vista, mesmo em cenários que, eventualmente, possam ter maioria de oposicionistas – como era claramente o ambiente de ontem no país.

Cabe aos políticos avaliar os recados que os manifestantes têm explicitado de forma categórica. A mensagem mais enfática é de que o esforço para a recuperação da economia não será suficiente para acalmar o país. O que os brasileiros desejam, e não só os que foram às ruas, é o combate implacável à corrupção. Um governo fragilizado pela sucessão de escândalos e pelo mais baixo nível de aprovação da história não pode, a partir de avaliações sobre o número de participantes, enganar- se com o fato de que as pas- seatas não teriam superado as de março e abril. O Executivo e os demais poderes terão de oferecer respostas às manifestações de ontem, para que a expectativa de mudanças não dependa apenas das virtudes da Justiça.

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