A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

terça-feira, 10 de março de 2015

O SIGNIFICADO DO PANELAÇO



ZERO HORA 10 de março de 2015 | N° 18097


EDITORIAL



Ainda que se desconte o modismo contagiante das redes sociais, a verdade é que a manifestação de descontentamento com o governo não pode ser ignorada nem minimizada.

O panelaço registrado em algumas cidades do país durante o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff no último domingo está sendo minimizado pelos apoiadores do governo e superdimensionado pelos opositores. Neste ambiente de paixões exacerbadas, que vão do ódio à defesa cega, fica mais difícil avaliar a verdadeira dimensão do protesto, mas não há dúvida de que ele demonstra a indignação de setores da sociedade com o escândalo de corrupção que atinge a Petrobras e, principalmente, com a deterioração da economia, que se reflete diretamente no bolso dos cidadãos. Ainda que se desconte o modismo contagiante das redes sociais e até uma certa incoerência de quem optou por fazer barulho em vez de ouvir o que a presidente estava falando, a verdade é que a manifestação de descontentamento com o governo não pode ser ignorada nem minimizada. Há, sim, um contingente expressivo de brasileiros revoltados com a corrupção, com a alta dos preços e tarifas e, consequentemente, com a condução do país pelo grupo que está no poder. Acuada pela insurgência dos aliados no Congresso e pelo agravamento visível da crise econômica, a presidente da República não está conseguindo convencer a nação de que tem soluções para os problemas nacionais.

Em vez disso, usa subterfúgios inaceitáveis. No seu pronunciamento pouco convincente do último domingo, em nenhum momento admitiu os erros de seu governo, o descontrole sobre a Petrobras e a gravidade do momento político e econômico, preferindo transferir responsabilidades para a conjuntura internacional e para a escassez de chuvas – que, contraditoriamente, foi um dos seus argumentos para atacar o candidato oposicionista durante a última campanha eleitoral. Agora que a crise hídrica está servindo de pretexto para a elevação de tarifas, é culpa da natureza e não apenas do governo tucano de São Paulo.

Fariam melhor a presidente e seus apoiadores diretos se, em vez de atribuir o protesto unicamente aos opositores políticos, procurassem identificar as razões da insatisfação popular, que ameaça explodir nas ruas no próximo dia 15. Nem é preciso con- tratar pesquisas de opinião para se constatar que há muito mais gente decepcionada com o governo do que essa minoria responsável pelo panelaço da noite de domingo.

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