A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

terça-feira, 17 de março de 2015

A PESSOALIZAÇÃO DA REVOLTA



ZERO HORA 17 de março de 2015 | N° 18104


JULICE SALVAGNI*



Sobre o atual torvelino de manifestações políticas, pensei que as trocas de farpas já significavam que havíamos atingido o ápice da comoção. Mesmo em meio ao declarado desrespeito, algo de ingênuo me levava a crer que o comportamento repugnante dos coletivos, autorizados e impulsionados em suas próprias relações desmedidas, pudesse ter ficado arquivado nos livros de História. Entretanto, muito mais do que isso, são crescentes as revelações desprezíveis, por meio de agressões verbais, físicas ou mesmo ameaças de morte, vindas de todos os lados desse cabo de guerra, que não salvaguardam os que se posicionam politicamente.

Pela pessoalização das violências, é notável que o conhecimento crítico e argumentativo sobre política é escasso, ou não é suficiente para justificar tamanha bestialidade dos acontecimentos. Parte-se, então, para a linguagem da tortura, que é quando o alvo da afronta é o ser humano em sua individualidade.

Ao invés de corromper a daninha política em prol da construção de um país melhor, está se produzindo uma digladiação mútua por egos, poderes e dinheiro, protagonizado especialmente pelos senhores das bandeiras. Enquanto houver esse exército doentio e cego, que prefere perder seus ideais a repreender o seu representante, vamos continuar cativando uma catastrófica construção do ódio, que nos distancia paulatinamente da prática de uma convivência em sociedade e, especialmente, de um debate efetivamente político.

As tentativas das legendas, pela voz dos seus discípulos, de negar e encobertar a putrefação política estão de forma direta contribuindo para a manutenção desse modelo corrupto, desigual e elitista. A má notícia é que não existe um partido de referência que se salve.

Carecemos, acima de tudo, de uma urgente limpeza interna nas bandeiras, para que os próprios partidos sejam críticos de si mesmos, dispensando a má índole e a interferência privada, possibilitando a criação de outro caráter político. Encobrir a imundície alheia, acima de qualquer critério moral, é coisa do crime organizado. Os ultrajes só comprovam o tamanho da podridão que um fanatismo iludido é capaz de produzir, enquanto a população segue como massa de manobra de uma engrenagem política solidificada em sintonia com as corporações. Aviso aos que se perderam: o caminho para a construção de um mundo melhor é para o outro lado.

*PROFESSORA UNIVERSITÁRIA

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