A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

EXERCÍCIO DE INTOLERÂNCIA E AUTORITARISMO



‘Anarcofascistas’ esvaziaram as manifestações melhor que qualquer tropa do Choque. São inimigos da democracia travestidos de progressistas



EDITORIAL
O GLOBO
Publicado:15/09/13 - 0h00


Desde meados de junho, quando se ergueu a onda de manifestações de rua, este ciclo de protestos cumpriu uma trajetória específica e com diferentes fases. Recorde-se que a centelha partiu de um grupo ligado a frações de esquerda radical, sob o abrigo da bandeira pelo passe livre no transporte público, o MPL. Uma ação de violência despropositada da PM de São Paulo, contra um grupo de jovens do movimento, funcionou como segunda e mais poderosa centelha, para atrair a simpatia e a participação de uma nova, e maior, leva de manifestantes, com a visível participação de extratos das classes médias, a “nova” e a “velha”.

Ganhou força a defesa do apartidarismo nos protestos, e a pauta levada às ruas, antes centrada nos transportes públicos, terminou ampliada e, por isso, ganhou importância política. Deficiências generalizadas na infraestrutura, a má prestação de serviços na Educação e Saúde, a corrupção, muitas dessas denúncias resumidas na reivindicação de uma ação do Estado no “padrão Fifa”, frequentaram manifestações então já estendidas às capitais e cidades importantes do interior. Coerentes com este clima, cresceram protestos contra os gastos no projeto da Copa do Mundo.

No auge do apartidarismo do movimento, forças políticas com tradição de rua — sindicatos, PT, UNE e outras organizações — chegaram a ser impedidas de entrar em passeatas.

Toda essa histórica demonstração de vitalidade da sociedade brasileira, a ponto de surpreender correntes político-partidárias ligadas a mobilizações ditas de massa, tomou outro rumo, e se enfraqueceu, com a crescente atuação de vândalos, biombo para saqueadores do comércio.

Eles foram decisivos para esvaziar as ruas dos manifestantes da fase de crescimento dos protestos, quando a agenda de reivindicações cresceu. No Rio, os ataques à prefeitura, à Assembleia Legislativa (Alerj) e a depredação do Leblon se constituíram no marco desta última fase de recuo dos protestos.

Críticas a políticas públicas foram substituídas pela violência em estado bruto — a violência pela violência. Alguns segmentos da chamada esquerda chegaram a simpatizar com os black blocs da vida, inicialmente autointitulados “seguranças” das manifestações. Até “famosos” trocaram acenos com a turba de preto.

Na verdade, o fenômeno nada mais é do que mais uma ameaça à democracia e às liberdades civis vindas de forças progressistas apenas na aparência. Às vezes, nem isso.

O nacional-socialismo também oferecia o paraíso na terra, e o desfecho é bem conhecido. Uma espécie de “anarcofascismo” — autoritário na essência, como teria de ser — sufocou as manifestações com mais eficiência que qualquer tropa de choque.

Serve de demonstração em tempo real da existência de inimigos da democracia e da tolerância disfarçados de forças renovadoras.


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