A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 18 de agosto de 2013

A APROPRIAÇÃO DOS PROTESTOS

ZERO HORA 18 de agosto de 2013 | N° 17526


EDITORIAL INTERATIVO



O que mais chamou a atenção nas manifestações populares que assombraram o país no mês de junho foi a rejeição inequívoca dos manifestantes aos partidos políticos. No auge do movimento, bandeiras de agremiações políticas chegaram a ser queimadas e militantes partidários foram expulsos aos gritos e empurrões, um evidente excesso que provocou reação igualmente extremada de algumas lideranças políticas, a ponto de atribuírem inspiração fascista aos protestos. Também a imprensa, de modo geral, condenou a hostilidade aos representantes de partidos políticos, lembrando que tais organizações são indispensáveis na democracia representativa. Ainda assim, alertamos, a rejeição à política e aos políticos indicava a urgência de uma revisão de procedimentos e de depuração ética na atividade.

Infelizmente, não é o que se constata agora. Passado o susto inicial, que levou governantes e parlamentares a adotarem medidas emergenciais no mesmo sentido dos clamores populares, nota-se uma clara tentativa de apropriação das manifestações, não apenas por partidos políticos mas também por sindicatos, associações de classe e até mesmo grupos de interesses variados. Por qualquer coisa, meia dúzia de manifestantes bloqueia avenidas, invade repartições públicas e coloca seus pleitos acima dos interesses dos demais cidadãos, quando não acima da lei e da ordem.

Mais preocupante do que isso, porém, é a tentativa dos partidos políticos de manipular os protestos em benefício próprio ou das causas que defendem. Para esta semana mesmo, e especialmente para a data histórica do 7 de Setembro, várias manifestações estão programadas com o propósito explícito de promover bandeiras partidárias ou de desconstituir adversários políticos. A campanha eleitoral de 2014 já está nas ruas, não pela decisão espontânea dos cidadãos, mas, sim, em decorrência da ansiedade de lideranças partidárias em aproveitar escândalos para enlamear rivais. Nesse contexto, as denúncias relativas à cartelização no metrô de São Paulo e de pagamento de propina em negócios da Petrobras, além do julgamento dos recursos do mensalão, já estão na agenda dos manifestantes com interesses político-partidários.

Enquanto isso, ficam em segundo plano ou mesmo no esquecimento as demandas espontâneas das manifestações originais: serviços públicos de qualidade, ética na administração pública, gerenciamento eficaz dos recursos dos contribuintes e representação adequada para o que efetivamente querem os cidadãos.



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