A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 7 de julho de 2013

O GIGANTE ADORMECEU?



ZERO HORA 07 de julho de 2013 | N° 17484

A VOZ DAS RUAS
Manifestações que começaram reunindo milhares de pessoas pelo país diminuíram nos últimos dias.

ITAMAR MELO

Na segunda quinzena de junho, centenas de milhares de brasileiros saíram às ruas para uma das maiores mobilizações populares que o país já viu.

– O gigante acordou! – cantava a multidão nos protestos realizados de Sul a Norte.

Passadas duas semanas, as mobilizações seguem, mas as massas desapareceram. Os protestos recentes em Porto Alegre, Rio ou São Paulo encolheram para algumas centenas de militantes. Será que o gigante adormeceu de novo?

Um grupo de pesquisa do Departamento de Sociologia da UFRGS vem recolhendo elementos que ajudam a iluminar a questão. A equipe investiga os movimentos sociais na Capital desde 2010 e acompanhou os movimentos recentes, observando e realizando entrevistas, com o objetivo de produzir uma análise acadêmica do movimento. Segundo o professor Marcelo Kunrath Silva, um dos integrantes do grupo, é possível identificar três fases distintas na atual onda nacional de manifestações.

A primeira teve início no começo do ano, com mobilizações sobre o transporte público e as obras da Copa. Em Porto Alegre, precursora do processo, organizações políticas e grupos anarquistas formaram o Bloco de Luta pelo Transporte Público.

– Foi um movimento de esquerda, menos massivo e com uma pauta de enfrentamento com os governos municipais – opina Silva.

A segunda fase teve seu auge entre 14 e 18 de junho. É quando as multidões, convocadas por diferentes perfis no Facebook, vão às ruas e introduzem novas pautas: o combate à corrupção, a rejeição à PEC 37, a redução de impostos.

– Virou pop. É o momento em que uma avalanche de pessoas, incluindo a extrema direita e o empresariado, se incorpora e vira maioria, mas com reivindicações bem diferentes das originais e manifestando hostilidade aos partidos – diz o professor.

Essa invasão popular criou uma enorme tensão para os grupos que vinham comandando os protestos, que viram o controle sair de suas mãos. Iniciou-se a partir daí uma terceira fase, quando as organizações originais e outras entidades políticas – como PT, CUT, MST e UNE – se mobilizaram para tentar assumir ou reassumir o comando. Entre os símbolos desse esforço estão a introdução de caminhões de som e discursos nas manifestações de 24 e 27 de junho na Capital – uma maneira de dar uma identidade e uma voz aos protestos. Ao mesmo tempo em que isso ocorria, no entanto, a massa abandonava o barco gradativamente. Silva enxerga várias razões. Uma delas tem a ver com ciclo natural dos movimentos.

– Ninguém consegue manter uma mobilização de massa por muito tempo, ainda mais quando não existe estrutura organizativa. Esses eventos do Facebook têm grande capacidade de mobilização, mas vida efêmera – afirma.

Outras razões para o encolhimento dos protestos são mais específicas. A redução das tarifas de ônibus, a rejeição à PEC 37 e uma série de medidas tomadas pelas autoridades aplacaram parcelas da população. Os confrontos com a polícia, as depredações e os saques assustaram outros. E muita gente se desiludiu ao encontrar na rua partidos e organizações políticas com as quais não se identificavam.

– Eles eram maioria e, de repente, na manifestação seguinte, depararam com grupos organizados e caminhão de som. Ficaram se perguntando o que aqueles caras estavam fazendo ali – cita Silva.

Um dos grupos que se desligaram das manifestações de rua é o Porto Alegre Vai Parar, formado em 15 de junho por cinco amigos virtuais. Em nove dias, eles amealharam no Facebook 48 mil confirmações de presença para o protesto do dia 24 – três vez mais do que o Bloco de Luta. A advogada Bianca Uequed, 30 anos, uma das fundadoras, diz que o Porto Alegre Vai Parar parou de participar por causa do vandalismo e da hostilidade com os militantes organizados:

– A gente achava que ia mobilizar 2 mil, 3 mil pessoas, mas a coisa tomou proporção enorme. Com outros grupos do Facebook, estávamos levando a maioria das pessoas. O Bloco de Luta sentiu-se ameaçado, mas nem sabíamos que o Bloco existia. Deixamos de nos envolver nas manifestações por causa da violência e por estarmos sendo usados como palanque. Queremos nos manifestar, mas ainda estamos buscando uma maneira de não sermos usados.

Com o afastamento popular das manifestações, ficaram os grupos políticos. E o núcleo original, o Bloco de Luta, reassumiu o centro do movimento – o que se consolidou na quinta-feira, em um protesto de 500 pessoas na Vila Cruzeiro. A volta das multidões, acredita Marcelo Kunrath Silva, dependerá do sucesso da greve geral marcada para a próxima semana.


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