A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

VIOLÊNCIA NAS RUAS GERA DÚVIDAS NA REDE

ZERO HORA 26 de junho de 2013 | N° 17473

E AGORA



Saques e vandalismo nas ruas repercutem nas redes sociais. Após uma semana em que, no dia de um protesto, já se tinha a confirmação do ato seguinte, agora o que se percebe entre grupos de discussão são dúvidas quanto a datas e formas de mobilização. Até ontem, de mais concreto, havia a convocação do DCE da UFRGS para assembleia que discutirá “o novo momento de mobilização”, amanhã, às 10h30min, com mais de 8 mil confirmações no Facebook. Outro evento citava o 4 de julho como possível data para próximo protesto da Capital

Depois da intensa comoção conclamando a população a avolumar os protestos pelas ruas do país, as redes sociais agora exibem também o receio de quem está assustado com saques, depredações e repressão violenta. Postagens com a hashtag #vemprarua ganham variações, pedindo o abrandamento dos ânimos e o foco nas reivindicações pacíficas e bem definidas: #saidarua, #voltapracasa, #ficaemcasa.

No Facebook, a integrante de um grupo que reúne milhares de manifestantes de Porto Alegre, desgostosa com o desvirtuamento dos propósitos iniciais dos atos, propôs uma enquete: “Para que adianta seguir protestando?” Entre as possibilidades de resposta, estavam “Propiciar cortina de fumaça para os vândalos”, “Colocar pessoas inocentes em risco”, “Inviabilizar que os cidadãos se locomovam normalmente de ônibus, carro, etc” e “Justificar que o Exército venha pras ruas colocar ‘ordem’ na casa”. Em 19 horas, só 19 internautas clicaram nas alternativas (venceu a primeira opção, com 11 votos), mas a pergunta rendeu uma discussão que se desdobrou em 235 comentários. Intercalaram-se mensagens com a defesa incondicional da continuidade das passeatas, impropérios contra o governo e baderneiros e sugestões de melhores roteiros.

– Participei mais no início, quando a pauta estava bem definida. Agora, não vejo mais por que ir. A meninada quer sentir que está participando da vida política do Brasil, mas não está dando voz à razão, apenas à emoção. Não sou contrária às manifestações, apenas ao descontrole delas. Postei a enquete para os jovens poderem se perguntar se é assim que querem seguir lutando – afirma a consultora de vendas de 37 anos, que prefere não se identificar.

Moradora de um apartamento no quinto andar de um prédio na Avenida Venâncio Aires, na Capital, Fernanda Reche, 36 anos, está em uma área conflagrada: além de contêineres incendiados, três agências bancárias já foram destruídas a poucos metros. Habituada ao burburinho inofensivo dos bares da vizinhança, Fernanda se espantou com a gritaria e a quebradeira na segunda-feira. Por volta da meia-noite, postou um desabafo no Facebook: “Como faz para dormir depois disso tudo? Lixeiras derrubadas e pegando fogo, pedras, estilhaços, bancos aos pedaços, bombas de efeito moral, gás, cavalaria, pessoas escondendo o rosto com suas roupas, tropa de choque, helicópteros, coração saindo pela boca. Parece um filme, mas acabei de ver tudo isso da minha sacada.”

– Quem está participando da manifestação pacífica fica até determinada hora. Mais tarde, são aqueles a fim de anarquizar. Para mim, não é por esse caminho. Conheço várias pessoas que vão parar de ir, com o tempo, em função do vandalismo. Elas não perderam a vontade de protestar, mas estão com medo – afirma Fernanda.

Assídua nos protestos, Nathália Bittencurt, 22 anos, coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alega estar preocupada com a inabilidade da polícia em garantir segurança aos participantes. A estudante acredita, entretanto, que a maior parte do público tem uma pauta de pedidos bem clara e não desistirá de comparecer.

– As pessoas não vão ficar felizes tomando bomba de gás lacrimogêneo na cara, mas não vão deixar de participar. O que tem que determinar a duração das manifestações é a vontade das pessoas de estar na rua lutando pelos seus direitos – diz.

LARISSA ROSO


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