A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 29 de junho de 2013

GREVE ANÔNIMA





ZERO HORA - 29 de junho de 2013 | N° 17476

PARAR OU NÃO?
Sindicatos esvaziam greve anônima



Assim como protestos organizados nas redes sociais tomaram conta e surpreenderam o país, a greve geral convocada para segunda-feira pelo Facebook criou expectativa de que outro fato inédito na história brasileira estaria prestes a ocorrer. Mas, segundo representantes de categorias, não será desta vez

Começou de forma anônima e se espalhou como um vírus por todo o país o convite para uma paralisação geral na próxima segunda-feira. A convocação foi feita pelas redes sociais e quanto mais a data do evento se aproximava, mais confusão gerava.

“Alguém sabe se teremos ônibus?”, “O comércio vai funcionar?” , “Será que posso faltar o serviço?”. Essas foram as principais dúvidas que circularam nas redes sociais pelo convite anônimo que partiu de um evento criado no Facebook, com a foto do V de vingança. Choveram adesões na última semana. “Não é só porque o cara que criou o evento apoia tal partido ou tal ideia que não vale a pena seguir adiante! Eu sou a favor da greve geral, até porque, se der certo, vai ser o evento de maior adesão até então”, disse um manifestante, na página “Bloco de Lutas pelo Transporte 100% Público”, no Facebook.

Os sindicatos, estrategicamente, decidiram fazer uma greve, sim, mas em outra data: 11 de julho. A decisão das organizações levou outras entidades, que simpatizavam com a ideia da paralisação geral, a desistir. Foi o caso do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre.

– Vamos aderir ao que o movimento nacional decidir – declarou o presidente, Júlio Pires.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) justificou que as paralisações do dia 11 terão como objetivo “construir e impulsionar a pauta que veio das ruas nas manifestações”. Coordenadora geral da ASSUFRGS, que representa os servidores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCPA), Bernadete Menezes informou que há um indicativo de participação da greve no dia 11.

– A segunda-feira é chamada pela sociedade, no Facebook. É da gurizada. A das fábricas, centrais sindicais é dia 11 de julho. Acho que muita gente nova deve participar da paralisação de segunda, mas é mais o movimento estudantil. Apoiamos a sociedade e damos autonomia ao movimento estudantil. Vamos apoiá-lo. Não queremos atropelar ninguém, pelo contrário, queremos mudar o Brasil – disse Bernadete.

A exceção, ontem, era a categoria dos caminhoneiros, que foi orientada pela Federação dos Caminhoneiros a ficar em casa na segunda-feira para evitar possíveis bloqueios de rodovias.

Paralisação seria apenas informal

O advogado trabalhista, Guilherme Wunsch, lembra que, se o trabalhador se ausentar de seu emprego na segunda-feira, poderá sofrer sanções legais, entre elas advertência e desconto de um dia de trabalho.

Para o advogado trabalhista Gilberto Stürmer, a convocação da greve por meio da internet é ilegal. Ele recorre à lei 7783 de 1989 para lembrar que uma greve só é legítima se for feita por meio de deliberação de uma categoria:

– Se ocorrer, tecnicamente, não será greve. A lei prevê aviso prévio e notificação 48 horas antes de parar e etc.

Stürmer acredita que a greve marcada para o dia 11 manifesta a intenção das centrais sindicais de se desvincularem dos movimentos sociais com nascimento online.

– É uma manobra para tentar desvincular do movimento social porque a paralisação tem vários focos, mas é claro que o alvo central é o governo federal e quem está no governo quer se desvincular dos movimentos – diz Stürmer, fazendo referência a centrais sindicais, como a CUT, por exemplo, que é ligada ao PT.

KAMILA ALMEIDA


Oposição nas redes sociais


Não são só as centrais sindicais que desestimulam a greve convocada para segunda-feira. Na internet, a possível paralisação geral foi tratada por muitos como um movimento da “direita golpista, convocada por um maluco armamentista na internet”. Um evento batizado como “Denúncia do evento greve geral – Diga não à massa de manobra” foi criado no Facebook para estimular a reflexão. Esse foi o clima nas redes sociais, que também teve um rescaldo da última manifestação.

“Parabéns pra quem iniciou e hoje segue estimulando o confronto direto, mesmo sabendo que os setores que aderiram não têm um objetivo revolucionário nítido, não têm programa e nem estratégia”, ironizou um internauta.

“Galera, acho que depois de mais uma ou duas passeatas, fazer uma assembleia ou plenária aberta, lá na Praça da Matriz, é uma boa maneira de superarmos alguns desencontros que estão se evidenciando na nossa luta”, postou outro. O ato com carro de som e bandas causou polêmica:

“Curti muito ontem, até que a palhaçada da galera do gás (vulgo polícia) começou e o pessoal tentou sair pela única saída que nos deixaram, que dava pra passar cinco pessoas por vez e olhe lá”, disparou uma menina. “Nunca tive tanta vergonha alheia como ontem. Foi patético, faltou só o Faustão jogando balinha pra gente”, comentou um terceiro.

O Bloco de Lutas Pelo Transporte 100% Público deve se reunir no final de semana para discutir a greve e também qual será o rumo das próximas manifestações e quando elas devem ocorrer.


O QUE DIZEM AS CATEGORIAS

CENTRAIS SINDICAIS - As centrais sindicais (CUT, CTB, Força, UGT, CSP/Conlutas, CGTB, CSB e NCST) não devem convocar greve nesta segunda-feira. Chamarão paralisação geral para 11 de julho, quando praticamente todas as categorias devem aderir.

TRANSPORTE - As entidades que representam trabalhadores e empresas de ônibus descartaram qualquer paralisação. O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre, Júlio Pires, disse que líderes da categoria se reuniram e decidiram seguir a orientação das centrais sindicais (que prevê greve para o dia 11). O trensurb também deve funcionar normalmente.
- A Federação dos Caminhoneiros (Fecam) orientou os profissionais a ficarem em casa na segunda-feira, para evitar que fiquem retidos em eventuais bloqueios de rodovias.

BANCOS - Agências devem abrir normalmente, segundo a Confederação Nacional dos Bancos e entidades ligadas aos trabalhadores.

ENSINO - As principais instituições de ensino confirmam atividades normais. O Sinepe/RS, sindicato do ensino privado, orienta que as instituições mantenham a rotina, mas ressaltou em comunicado: “fiquem atentas a ações que possam dificultar o deslocamento de funcionários, professores e alunos ou que coloquem em risco a comunidade escolar. Considerando esses fatores, a avaliação e decisão deve ficar a cargo de cada instituição”.
- A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) orienta os diretores das escolas públicas estaduais de que o trabalho ocorra normalmente. Em nota, a Seduc afirma: “uma (greve) chamada de Facebook não tem legitimidade para paralisar atividades”.

SERVIÇOS PÚBLICOS - A Federação Sindical dos Servidores Públicos no Estado do Rio Grande do Sul apoia informalmente o movimento de segunda-feira, se houver, mas diz que só deve convocar os servidores para a greve no ato programado para o dia 11.

COMÉRCIO - Deve funcionar normalmente, segundo o Sindilojas.

SAÚDE - O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul diz que os médicos realizarão passeata apenas na próxima quarta-feira, às 17h, no centro de Porto Alegre.

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