A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 23 de junho de 2013

A REVOLTA COMEÇA EM CASA


Brasil nas ruas: a revolta começa em casa
Filhos de parlamentares e políticos alvos de protestos participam das manifestações

VINICIUS SASSINE 
O GLOBO
Atualizado:22/06/13 - 22h55


Icaro, filho do senador Rollemberg (PSB-DF), com o cunhado Rodrigo Alencar 
Arquivo pessoal


BRASÍLIA - No dia em que manifestantes ocuparam a laje do Congresso Nacional, um dos atos mais simbólicos até agora dos protestos em Brasília, pai e filho estavam em posições antagônicas. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que pretende se candidatar a governador do Distrito Federal, era um dos poucos parlamentares dentro do Congresso na noite daquela segunda-feira, 17. Acima, na parte externa onde ficam as cúpulas representativas de Câmara e Senado, estava o filho do meio do senador, Ícaro Rollemberg, de 28 anos. Os ativistas ocuparam a laje para contestar o modelo político vigente e denunciar o distanciamento entre os donos do poder, os partidos e seus representados. Ícaro defendia um novo modelo de participação política, apesar da proximidade física e familiar com um dos integrantes do Congresso.

— É importante os movimentos serem apartidários nesse momento. É o povo falando para quem está lá dentro. E não tem como separar o povo por partidos — diz Ícaro, que continuará participando dos protestos.

Politizado dentro e fora da Universidade de Brasília (UnB), o estudante de Artes Cênicas Caio Sigmaringa Seixas de Carvalho, 18, também estava na noite de segunda sobre a laje do Congresso. Caio é sobrinho do ex-deputado federal Sigmaringa Seixas (PT-DF), amigo do ex-presidente Lula. Ele sabe da proximidade entre o tio e Lula, que vem aconselhando a presidente Dilma Rousseff sobre o rumo a ser tomado diante das manifestações generalizadas. Caio pretende repassar ao tio as principais reivindicações.

— A primeira pauta é a luta contra os gastos na Copa do Mundo. Desde o anúncio pelo Lula, achei absurdo. O país evoluiu na questão social no governo Lula, com a saída das pessoas da miséria, mas não tem nível para gastar bilhões num evento elitista — diz Caio.

Ícaro e Caio são filhos de Brasília e convivem com a política dentro de casa desde a infância, sem que as bandeiras partidárias tenham necessariamente contaminado suas posições nos protestos. O filho do senador Rollemberg nasceu em Brasília, estudou Publicidade na cidade e trabalha numa agência de eventos. Para o jovem, a corrupção é o que mais motiva os protestos.

— Falo para o meu pai que o movimento está disperso, e as pessoas precisam de referência. Seria bom alguns políticos convocarem reuniões com os representantes, para se discutir uma pauta — diz Ícaro.

O senador Rodrigo Rollemberg não sabia que o filho fez parte do grupo que ocupou a laje do Congresso:

— Sempre estimulei meus filhos a terem participação política. A juventude percebeu o esgotamento das agendas política e econômica. Não é difícil entender o que eles estão dizendo; está muito claro — afirma o parlamentar.

O sobrinho de Sigmaringa Seixas está nas ruas desde o primeiro protesto em Brasília, no dia 15, data da abertura da Copa das Confederações no Brasil:

— Esses estádios não serão usados quase nunca.

— Esses garotos, meu sobrinho, mesmo, não sei se ele tinha essa consciência, mas espero que isso traga a consciência de que eles podem e devem participar num processo de mudança, de transformação — diz Sigmaringa Seixas. (Colaborou André de Souza)

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