A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

POUCO SE PENSA NO COLETIVO


ZERO HORA 03 de fevereiro de 2013 | N° 17332


SANTA MARIA, 27/01/2013


NILSON MARIANO 

Além da omissão do cidadão e da incapacidade permissiva do Estado, há outro ingrediente preocupante: não se assume as próprias responsabilidades. Segundo o cientista político e sociólogo Emil Sobottka, para o brasileiro, o diabo é sempre o próximo: atribui aos outros posturas negativas que tem, mas jamais admite.

– Experimente chamar a atenção de um motorista que está falando no celular. Ele certamente vai lhe destratar – previne o cientista político.

Professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Sobottka pesquisa as sociedades da Alemanha, Holanda e Suécia. Entende que o brasileiro não deve chegar ao extremo dos prussianos, que colocam o dever acima de tudo. Nem exagerar como certos norte-americanos, que adoram dedurar os vizinhos à polícia em vez de conversar antes. Sobottka prega o equilíbrio, mas, sobretudo, cobra mais iniciativa.

– As pessoas em geral precisam assumir as suas responsabilidades. Andar dentro das regras – afirma.

Sobottka percebe que interesses privados são “fortemente representados” no Brasil. Há bolsões que defendem suas causas – e seus lucros – inclusive pisoteando no bem comum. Porém, nota que os interesses públicos, como a segurança, a educação e o trânsito, são relegados.

– A sociedade civil organizada é muito fraca, frágil, quando o assunto é o interesse público – observa.

O que mais apavora o secretário-executivo da organização Contas Abertas, Gil Castello Branco, é a irresponsabilidade compartilhada entre os setores público e privado. Especializado em fiscalizar governos, cita a parcela de empresários que opta por soluções “fáceis e baratas”, almejando somente o lucro e expondo vidas a perigo. Critica governos ineptos, tolerantes com erros e que não fiscalizam fraudes nem impedem a rotina de logros contra a população.

– Há, no Brasil, uma relação promíscua entre a iniciativa privada e o governo – acusa Castello Branco.

O dirigente da Contas Abertas também se insurge contra a lassidão de não se aprender com as lições que vêm de fora. Recorda que o fogo na República Cromañón, em Buenos Aires, não serviu de alerta para uma realidade preponderante no Brasil: boates em formato de arapuca, sem prevenção contra sinistros, que podem se transformar em câmaras de extermínio.

Castello Branco teme que o ciclo de irresponsabilidades não será interrompido com o episódio de Santa Maria. Gostaria de estar equivocado, mas acredita que as autoridades vão prometer recursos e mais rigor nas leis, como sempre fazem. E que tudo voltará a ser como antes quando passar a comoção.

– Prevalecem a incompetência e a irresponsabilidade – enfatiza.

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