A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

EXEMPLO EDIFICANTE

ZERO HORA 13 de julho de 2012 | N° 17129. ARTIGOS

Lícia Peres, Socióloga


À medida em que o tempo passa, instala-se nas pessoas a tendência a um certo ceticismo e a relativização das coisas. O ceticismo é a descrença de que o mundo pode ser mudado e o jeito é aceitar a perda dos ideais da juventude. Há nessa posição o abandono das grandes esperanças, instala-se o conformismo, o que não é bom por representar a rendição. Na relativização das coisas, em nível pessoal, há ganhos de sabedoria e maturidade. Afinal, o namoro desfeito, encarado na adolescência como tragédia e perda irreparáveis, termina por cair no esquecimento e a vida segue em frente, quase sempre para melhor. Daí a sabedoria popular, em relação às dores, de “dar tempo ao tempo” ou o conselho poético de Rilke: “A vida tem razão em todos os casos”.

Em meio a tantos descalabros, desvio de dinheiro, apropriação de verbas públicas que ficam no meio do caminho, mentiras e o conluio entre políticos e contraventores, foi cassado o mandato do senador Demóstenes Torres, que ficará inelegível até 2027. Melhora, assim, a imagem do Senado.

Mas o tema deste artigo é outro.

Trata-se do exemplo edificante de dois moradores de rua, em São Paulo. Rejaniel de Jesus Silva Santos e sua companheira Sandra Regina Domingues – um casal de catadores de material reciclável que mora embaixo de um viaduto em Tatuapé – encontraram e entregaram à polícia R$ 20 mil que foram furtados de um restaurante japonês. Para quem vive em precárias condições, essa quantia representa uma verdadeira fortuna. Rejaniel, ao tomar a decisão de não ficar com o dinheiro, diz ter lembrado do conselho materno “para não roubar nada dos outros”.

O restaurante propôs, em agradecimento, pagar sua passagem de volta para o Maranhão, sua terra de origem, ou para Curitiba, onde mora a família de sua companheira. A outra oferta – de treinamento e emprego – foi a escolhida, o que representa a perspectiva de uma nova vida.

Ao final da entrevista, Rejaniel diz esperar “que a mãe sinta orgulho dele”, o que certamente ocorrerá, assim como nós sentimos. Seu exemplo de honradez e moralidade faz aumentar a esperança de que esta atitude tenha um efeito multiplicador sobre a sociedade brasileira, tão carente de valores.

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