A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 13 de novembro de 2011

A ERA DA INDIGNAÇÃO


EDITORIAL ZERO HORA 13/11/2011


Já não é mais possível ignorar a explosão de protestos de rua que toma conta do mundo. Depois da multiplicação de manifestações em dezenas de países, a maioria delas pacíficas, acompanha-se agora o que se anuncia, pela grandiosidade prometida pelos organizadores, como a grande marcha dos indignados em direção a Washington. A caminhada iniciada na quarta-feira em Nova York pretende juntar milhares de adesões pelo caminho e reunir uma multidão no dia 23 na capital americana. Ainda é cedo para se saber que consequências terão tais protestos na governança mundial e nos rumos econômicos e sociais de cada nação. Mas não parece haver dúvida de que o fenômeno tem origem nas novas possibilidades de comunicação, especialmente na internet e nas redes sociais, que possibilitam mobilizações instantâneas.

As manifestações – algumas com episódios de violência, vandalismo e choques entre manifestantes e forças de segurança – reproduzem exatamente o pluralismo anárquico da comunicação digital. As pessoas que se dizem indignadas apontam vários alvos: os políticos, em primeiro lugar, seguidos pelo poder econômico (com destaque para os banqueiros) e pelos ricos em geral, vistos simploriamente como uma minoria de 1% que estaria explorando os outros 99% das populações. Sob este guarda-chuva geral, aparece uma multiplicidade de motivos para os protestos, como se pode constatar nos cartazes portados pelos manifestantes em todos os continentes: crise econômica, corte de benefícios sociais, desemprego, descaso com a educação, corrupção, capitalismo, globalização, FMI, meio ambiente, governos autoritários e outras causas nem sempre claras e muito menos globais.

Há um visível modismo nos protestos. Os indignados não são exatamente os muito pobres, vítimas da fome e das guerras, nem os oprimidos por ditaduras (com exceção dos países do mundo árabe onde os protestos geram revoluções). São, predominantemente, pessoas que vivem em regimes democráticos e que têm acesso aos modernos instrumentos de comunicação. De Wall Street a Sydney, passando pelas grandes capitais europeias, pelas três Américas e pelo Oriente, a bandeira da indignação corre de mão em mão pelo planeta, materializada em várias mensagens que poderiam ser resumidas numa só: todos querem um mundo melhor.

Serão os protestos dos conectados o caminho para alcançá-lo? Talvez não, mas parece inquestionável que eles representam um ponto de mutação. Impossível não ouvi-los, impossível não percebê-los, impossível não se preocupar com eles. O mundo melhor, todos sabemos, só virá com trabalho, com esforço coletivo, com políticas públicas adequadas e transparentes, com o estressamento da democracia, com liberdade para os indivíduos (inclusive de manifestação), com civilidade, com empreendedorismo, com justiça social, com educação, com oportunidades para todos e, acima de tudo, com paz.

As questões que nos afligem a todos estão sendo colocadas na rua pelos indignados. Agora, cabe a todos nós buscar as respostas e trabalhar para que elas se concretizem.

A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Você concorda que os chamados indignados, mobilizados pelas redes sociais, representam as demandas da sociedade?

Sim, a mobilização pelas redes sociais já é fato em todo o mundo, quer fazendo protestos nas ruas ou em discussões na rede. A representação da sociedade estará confirmada pela quantidade de pessoas mobilizadas. Quanto maior o número, maior é a vontade de mudança. Mas não bastam somente discursos e manifestações, sem um propósito definido. Há que se fazer uma cobrança clara sobre determinada demanda, mesmo sendo necessárias várias manifestações para um mundo melhor.Edinei Buzzatti – Porto Alegre (RS)

Não só concordo como tenho certeza! Infelizmente, com a desmoralização das mídias impressa e televisiva, que se tornaram meros repassadores de matéria paga, publicando notícias e publicidades não mais confiáveis, a sociedade moderna e atuante encontrou na internet a maneira mais ágil e verdadeira de manifestar a sua opinião e os seus ressentimentos com o poder e o sistema, que está se tornando a cada dia mais falho, inoperante, tirânico e ditatorial, no que diz respeito às liberdades e aos direitos universais do cidadão. No futuro, a civilização terá uma única cadeia universal de comunicação e se tornará cada dia mais irmanada entre as suas diversas etnias, que deixarão de ser manipuladas e enganadas pelos veículos de comunicação atuais...Paulo Ribeiro – Porto Alegre (RS)

Já que a mídia tradicional, há tempo, só protege os próprios interesses, vejo nos movimentos sociais virtuais uma fonte muito mais confiável e digna de representar demandas sociais. Obviamente, também não devemos seguir cegamente aquilo que é dito na internet, assim como o que nos é dito fisicamente.Leonardo Tomé – Rondônia (AC)

As manifestações das redes sociais, expressam, sim, a vontade da maioria. Uma maioria que não tem direito a voz, que a grande mídia não escuta ou não divulga. Como nas redes sociais há liberdade de expressão e todas as pessoas de certa forma tem acesso a elas, é lá o único meio que hoje a população tem para opinar e dizer basta à corrupção e ao descaso de nossos temporariamente eleitos! Alessandra Algarve – Santa Maria (RS)

Não concordo. As mobilizações feitas através de redes sociais não passam de modinha, que, como tantas outras, passa, faz um pouco de barulho, mas não deixa nenhum rastro. Diferente de mobilizações que, historicamente, têm na sua criação e ação a real intenção de mostrar a luta pela causa manifestada, além da seriedade necessária, e não apenas juntar um grupo de pessoas que apenas estão querendo ocupar seu tempo, como se estivessem discutindo em algum site de bate-papo moderno. Juliano Pereira dos Anjos. Esteio (RS)

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