A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

PROTESTO CRUZA O PLANETA E SACODE OS EUA

VOZES NAS RUAS. O protesto que cruza o planeta - MARTA SFREDO, ZERO HORA 11/10/2011

Inspirada na Primavera Árabe, mobilização ganha as ruas de dezenas de cidades nos Estados Unidos em oposição ao poder econômico e político. Os protestos devem se repetir em todo o mundo no próximo sábado, inclusive no Estado.

Os ventos da Primavera Árabe sacudiram o outono americano e prometem agitar o 15 de outubro nas duas estações. A sucessão de protestos que derrubou ditadores no Oriente Médio acampou em Wall Street – coração financeiro do Ocidente – e ambiciona se espalhar por praças de todo o planeta. É movida pela insatisfação com o poder político e econômico e alimentada por redes sociais.

Em comum, os movimentos Ocupar Wall Street e Indignados, de vários países da Europa, têm a crise econômica como cenário e os cortes em orçamentos públicos, que afetam a vida dos cidadãos, como estopim.

– Até 2008, as crises surgiam na periferia, na América Latina, na Ásia, não no coração do sistema. Agora, o desemprego nos EUA está perto de 10%, mais do que o dobro do que há cinco anos. Da classe média para baixo, todos estão endividados – explica Marcelo Paixão, economista e doutor em sociologia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Nos EUA, tudo começou em meados de setembro, com um acampamento no Park Zuccotti, praça perto de Wall Street, a rua que simboliza o poder financeiro. O Ocupar Wall Street ganhou versões em dezenas de cidades americanas. Só um tipo de manifestante é barrado: o de partidos políticos.

– Isso reflete uma séria crise de legitimidade dos partidos tradicionais, que tanto pode suscitar aperfeiçoamento do sistema político quanto se transformar em via para soluções autoritárias – condiciona Paixão, que admite “simpatia”, por enquanto.

Falta de inserção política e incerto alcance social podem limitar o movimento, avalia o historiador Marco Antônio Villa.

– É um momento de absoluta incerteza na Europa e nos EUA. Mas é certo que China e Índia continuarão a crescer. Não é uma crise, mas pode ser um reordenamento do capitalismo.

Cidades gaúchas como Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria e Passo Fundo participam do dia mundial de protestos no próximo sábado. Raquel Matos, ligada ao diretório de estudantes da UFRGS, é uma das pessoas que difundem o ato na Capital.

– Como nos conectamos pelas redes sociais, é até difícil dizer quem organiza. Em geral, são jovens que se identificam contra todas as formas de opressão – descreve.

Quem são e o que querem

O Ocupar Wall Street reúne diferentes ativistas. São desempregados, estudantes, sindicalistas, ambientalistas, funcionários públicos e militantes de direitos humanos. Descrevem-se como “resistência com organização horizontal” que abriga todas as “cores, gêneros e crenças”.

A inspiração na Primavera Árabe é citada no manifesto do movimento. O principal objetivo declarado é “restaurar a democracia” nos EUA. Para alcançá-lo, dizem que não podem permitir que “a ganância corporativa e a política corrupta” definam os rumos do país.

Sem líderes, com famosos

Um dos pontos que identificam o Ocupar Wall Street com os Indignados europeus é a ausência de líderes. As decisões são tomadas em assembleias com participação de todos. Existe até um manual de como se manifestar a favor (agitando as mãos) ou contra as propostas (cruzando os braços no ar). Num movimento que se preocupa em não destacar integrantes, o papel de estrelas das manifestações ficou com as celebridades que apoiam suas teses.

O cineasta Michael Moore, ácido crítico das grandes companhias dos Estados Unidos e de algumas políticas de governo, é um dos famosos que já esteve nas manifestações. Seu documentário Tiros em Columbine, de 2002, já ganhou um Oscar.

Ao menos uma vez, Moore dividiu os holofotes das ruas com outro nome ligado ao cinema, o do ator e diretor Tim Robbins, também oscarizado por sua atuação em Sobre Meninos e Lobos, filme de 2003 dirigido por Clint Eastwood.

A atriz Susan Sarandon, que formou com Robbins até 2009 um dos casais mais engajados de Hollywood, também ajudou a dar visibilidade ao Ocupar Wall Street. Fora do universo cinematográfico, nomes com respeito intelectual circularam pelo Park Zuccotti, quartel-general do movimento, como o linguista Noam Chomsky e o economista premiado com o Nobel Joseph Stiglitz.

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