A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 16 de outubro de 2011

A MARCHA DOS INDIGNADOS

EDITORIAL ZERO HORA 16/10/2011


Por diferentes razões, na maior parte dos casos de ordem política ou econômica, e em países culturalmente diversos, mas tendo como ponto em comum a convocação pelas redes sociais, multidões a cada dia mais numerosas têm saído às ruas para protestar em boa parte do mundo. Na última semana, um movimento crescente também no Brasil, centrado no combate à corrupção, voltou a agitar algumas das mais importantes cidades do país. O protesto coincidiu com a disseminação, por metrópoles norte-americanas, de marchas de rua inicialmente restritas a Wall Street, o coração financeiro de Nova York, contra os rumos da crise global e seus efeitos no emprego. O ponto em comum entre essas e outras manifestações é a sensação de que nem os políticos tradicionais vêm se mostrando capazes de atender aos anseios da população, nem os sistemas político-administrativos atuais conseguem contemplar suas expectativas imediatas. O desafio dos governantes é impedir que toda essa indignação, como a definiu o escritor francês Stéphane Hessel no livro Indignai-vos, resulte apenas em frustrações.

Inicialmente impulsionadas pelo clamor por liberdade no mundo árabe, as insurreições que mudaram o destino, entre outros, de países como Tunísia e Egito, transbordaram, por insatisfações econômicas, para Espanha, Grécia, Grã-Bretanha, levaram milhares de pessoas às ruas contra a política educacional no Chile e contra a política habitacional em Israel, antes de se multiplicarem nos Estados Unidos sob o lema Ocupar Wall Street. A maioria delas se amplia a partir de bandeiras específicas. De maneira geral, porém, estão associadas a uma combinação de globalização e uso massificado de tecnologias avançadas. Mal dosada, essa associação pode acabar acentuando efeitos negativos de instrumentos com potencial para assegurar uma melhora importante nas condições de vida da humanidade. Bem aplicada, pode trazer ganhos em democracia e transparência.

A mesma globalização com poder de impulsionar os mercados, de reduzir as distâncias e aproximar os povos tem também potencial para facilitar o contágio de crises financeiras. A de 2008 – motivada sobretudo pela ganância e pela falta de controles – poderia ter ficado circunscrita a Wall Street. Não ficou, entre outras razões, porque os mercados são internacionalizados, porque faltaram controles mínimos e porque as tecnologias existentes hoje facilitam a disseminação da sonegação e de paraísos fiscais, mas, sobretudo, devido à falta de cooperação entre as nações. Como hoje qualquer problema num país pode provocar uma reação em cadeia, disseminando prejuízos e levando a população ao inconformismo, a questão não pode ser subestimada.

Embora ainda contenham uma complexidade que talvez precise ser melhor decifrada, os protestos de rua servem de alerta para a urgência de políticas de governança firmes, de mais seriedade no sistema financeiro, de mais estabilidade econômica e de mais ética e transparência nos setores público e privado. Os movimentos de rua indicam que uma das formas de evitar a erosão social diante da crise é investir mais, e de forma responsável, em programas educacionais, preparando profissionais para concorrer num mercado globalizado. Mas é preciso também que governantes e lideranças políticas se empenhem em encontrar formas de conter crises e de evitar sua disseminação, promovendo políticas responsáveis voltadas não para si mesmos e para seus financiadores de campanha, mas para o conjunto da sociedade.

A profusão de protestos de rua serve de alerta para a urgência de políticas de governança firmes, de mais seriedade no sistema financeiro, de mais estabilidade econômica e de mais ética nos setores público e privado.


A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Você concorda com o argumento do editorial, de que os protestos de rua podem contribuir para avanços políticos e econômicos?

O LEITOR CONCORDA

Sim. O silêncio em certas ocasiões é a concordância com o mal nefasto da corrupção. João Alfredo Mallmann – Sertão (RS)

Acredito que protestar de forma pacífica contribui e fortalece a democracia, pois expõe a insatisfação da sociedade. Através das redes sociais podemos nos organizar, exigir nossos direitos e fazer parte do processo político em tempo real. Alexandre Niederle – Soledade (RS)

Concordo. Acho que precisamos entender que as grandes mudanças só são possíveis se todos mudamos de atitude, sobretudo se deixarmos de lado a indiferença. Se entendermos que somos parte e devemos manifestar tanto a nossa inconformidade quanto o nosso apoio, conforme for o caso. Ir às ruas numa atitude de protesto pacífico é mais do que válido, é necessário. O aumento da impunidade e da corrupção tem como base a nossa indiferença. Denise Castilhos – Porto Alegre (RS)

É certo que protestos e manifestações em grandes grupos podem impulsionar transformações na política, na sociedade. Há exemplos de mobilização popular na história a favor de direitos das mulheres e contra a ditadura. Ir para as ruas de “corpo presente” é mostrar em quantidade a vontade e a voz do povo. Jainara Martiny – Canoas (RS)

O LEITOR DISCORDA

Não adianta indignação explícita se continuamos a achar que mandato político não é representação mas um negócio privado em que o dinheiro público, portanto, não pode ser aplicado. Protestar nas ruas é consequência, quando não açulada. A causa começa sempre na manipulação do poder econômico. José Silveira – Brasília (DF)

Não concordo. Em saudosos tempos, que as manifestações de rua realmente buscavam modificações em várias esferas, faziam os alvos desses protestos reavaliarem algumas atitudes, e até mesmo os poderes, instigados pelos protestos, buscarem apurar a veracidade ou não dos fatos apresentados. Hoje, se faz protesto ou passeata por qualquer motivo, banalizando um movimento, que na verdade, deveria ser usado em prol de causas realmente sérias, como sempre foi. Juliano Pereira dos Anjos – Esteio (RS)

Não concordo. Grandes manifestações não sensibilizam o poder. A forma mais correta de reivindicar nossos direitos é através do voto. Se todos souberem usar essa arma, não será necessário apelar para manifestações de rua. Alda Pegoraro Roeder – Nova Prata (RS)

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