A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A LETARGIA DE UM POVO

CAUSAS DA LETARGIA DIANTE DA CORRUPÇÃO. EDITORIAL O GLOBO, 20/07/2011 às 16h47m

Em artigo publicado no GLOBO, o correspondente do jornal espanhol "El País", Juan Arias, expôs sua perplexidade diante da letargia cívica que acomete a sociedade brasileira enquanto se multiplicam casos de corrupção. O afastamento de dois ministros, Antonio Palocci e Alfredo Nascimento, em poucos meses de governo Dilma, seria motivo para alguma manifestação. Até porque, antes de serem fatos isolados, constam de um longo ciclo de malfeitos na esfera pública.

É ainda mais estranha a passividade quando se considera - como levou em conta Arias - que este mesmo país já ocupou ruas e praças em defesa da volta das eleições diretas e pelo impeachment, por corrupção, do presidente Fernando Collor. Nos últimos tempos, apenas atraem multidões, observou o jornalista, a defesa da liberalização da maconha, a luta contra a homofobia e igrejas evangélicas. "Por que não reagem os brasileiros?" - é o título do artigo de Arias.

O fenômeno da inapetência política diante de assaltos aos cofres abastecidos com pesados impostos pelo contribuinte tem múltiplas raízes. A mais profunda deriva da bem-sucedida execução de um projeto de cooptação - com dinheiro público, claro - dos sindicatos, organizações da sociedade civil, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), e movimentos ditos sociais. Todos convertidos em correias de transmissão do lulopetismo.

Repartida a máquina pública dentro da filosofia do toma lá dá cá do fisiologismo, couberam ao MST e satélites, por exemplo, o Ministério do Desenvolvimento e o Incra; e aos sindicatos, o Ministério do Trabalho, e por óbvio, respectivas verbas. Assim, soube o lulopetismo desativar os motores de ignição clássicos de manifestações políticas. Até o 1º de Maio, data de reivindicações sindicais, foi convertido num dia de quermesses.

Afinal, as agremiações sindicais estão no poder. Na reedição sem retoques de uma política getulista, o governo Lula oficializou a existência das centrais, dando-lhes a chave do cofre do imposto sindical, um dinheiro de acesso fácil, recolhido compulsoriamente dos assalariados, e sem a necessidade de comprovação de gastos. Tudo ao contrário do que defendia o "novo sindicalismo" nascido sob a liderança de Lula no final da década de 70.

Também não pode ser desprezado o efeito hipnótico do crescimento econômico com inflação sob relativo controle, embora alta. Acrescente-se o crédito farto - caro, mas com prestações a perder de vista - e estará pronto o cenário de tranquilidade para os inquilinos do poder.

Não é inédito. Guardadas as devidas diferenças históricas, também no auge do "milagre brasileiro" a classe média não se opôs à ditadura militar, enquanto conseguia comprar no crédito direto o primeiro carro do filho recém-aprovado no vestibular.

Outro aspecto a ser considerado é que, com Lula, a partir de 2003, passou a ser aplicado um projeto de poder, não de governo. Em nome dele, tudo é válido - mensalões, aloprados, getulização do Estado, doação do Ministério dos Transportes ao PR e a Valdemar Costa Neto. O silêncio literalmente vale ouro.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Muito bom este editorial. Parabéns. Poderia afirmar também que uma das causas desta letargia é a impotência do povo brasileiro diante da falta de alternativas de reação social diante de leis fracas, de parlamentares comprometidos e de uma justiça burocrata, benevolente e dependente do gerenciamento político. Para derrubar um Estado ganancioso e omisso, uma revolução precisa de um motivo contundente capaz de captar lideranças confiáveis e levantar uma forte massa de indignados. Infelizmente, a pesada carga de impostos, as arrecadações recordes de tributos, os salários abusivos dos integrantes do Poder, os atos secretos no parlamento, as farras com dinheiro público, a corrupção e o desrespeito à constituição e às leis brasileiras ainda não foram suficientes para levantar o cidadão, os clubes de serviço, as associações e as comunidades para uma forte "mobilização" cívica nas ruas.

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